quarta-feira, 29 de abril de 2009

Conto: O Escritor Melancólico

Derramei algumas vezes lágrimas sobre algumas de minhas obras que escrevi em meio a tempos de turbulência em minha vida, tempos que eu sei que não voltaram mais, e eu agradeço por isso.
Talvez não fosse um bom escritor se essas lágrimas não tivessem molhado os textos que demorei tanto para escrever, quando as pessoas que eu mais amava se foram, quando o mundo parecia ter me virado as costas. Eu apenas sentava em minha cadeira velha de madeira, apanhava minha pena e escrevia meus maiores textos perversos e bucólicos. Junto deles minhas lágrimas molhavam as inúmeras páginas de minhas obras, escrever se tornou meu refúgio, minha vida, minha dor...
Já não sei mais quem sou eu, em meio a tantos textos, alguns inacabados. Agora lembro das passagens de minha vida toda ao entrar no pequeno cômodo onde guardo todas aquelas folhas velhas e amassadas, borradas de tinta, palavras de cada uma delas são retratos de toda minha vida frustrada e melancólica, talvez tivesse de ser menos incrédulo na vida, me sinto sozinho agora, ando nas ruas e não aceno à ninguém, hoje apenas espero o sopro gelado da morte vir me buscar, mas enquando ele não chega, continuo escrevendo, quem sabe algum dia alguém encontre e saiba o homem que fui...
Exemplo para alguns, desgosto para muitos. Este sou eu hoje, construi minha vida de acordo com o que eu acreditava e queria, meus objetivos eram incertos e ninguém nunca sabia o que se passava pela minha mente. Hoje já não é tão dificil olhar para mim e descobrir o que fui, e o que sou.
O que fui? Não sei, talvez uma espécie de fracassado que buscou refúgio em páginas escritas por ele mesmo, com o decorrer dos tempos os orvalhos secaram e eu continuei alí, frio, insensível, incrédulo, insensato...
O que sou? Hoje não passo de um escritor, também fracassado, que escreveu obras de sua vida, da qual não se orgulha, mas dizem que os melhores romances são aqueles que terminam com finais infelizes. Então fecharei meus olhos, e na melancolia de minha solidão, esperarei alguém me encontrar já frio. Abro agora um vidro com alguns comprimidos para dormir, adeus, essas são as últimas frases de um escritor frustrado, triste, melancólico...
E se alguém achar minhas obras, por favor, guarde em um baú e faça com que minha história atravesse séculos a frente.
Junte as folhas, reescreva, dê o seu nome à obra, mas não se desfaça, não me esqueça como os outros me esqueceram, eu não suportaria...
João Victor / 2009