sábado, 28 de março de 2009

Conto: O Vento


Era uma tarde de outono, onde crianças brincavam nos parques, idosos liam jornais nas praças, casais levavam seus filhos para dar comida aos cines do lago. Todas as famílias pareciam felizes em um dia como aquele, todos sorrindo, se divertindo, namorando e fazendo tudo que pessoas felizes fazem no dia de domingo à tarde. E neste mesmo domingo Verônica esperava em uma cama de hospital sua hora de morrer, era uma moça jovem, bonita, alegre. Porém, a vida não lhe permitira ficar um pouco mais para terminar de viver o que tinha de viver. Aliás, talvez esperasse sua hora de partir por que não havia mais nada para ela viver aqui na terra, talvez fossem seus últimos momentos por que ela já havia feito o que viera fazer. Apesar de serem as últimas horas de Verônica, ela ainda pensava em muitas coisas, coisas que ela havia feito, dito. Algumas coisas que ela mudaria se pudesse voltar atrás, outras que mesmo que pudesse não mudaria. Sua vida estava acabando ali, naqueles últimos momentos, nada mais poderia ser feito, o filme de sua vida passava em suas lembranças rapidamente como uma folha que escapa da arvore e corre ao vento na direção em que ele levá-la. Verônica adoraria naquele momento ser levada pelo vento, se sentir leve, sem pecados, sem remorso ou desgosto, queria ser apenas uma folha, que é frágil e que escapa do seu galho com o sopro do vento que lhe trás uma nova jornada, um novo caminho para seguir, um caminho de altos e baixos, de dores e alegrias, de perverso ódio e de profundo amor. Talvez ela se comparasse no momento com uma folha de outono que cai da arvore e segue para onde o vento levar, ela era uma folha, que deixou o vento levá-la para qualquer lugar, mais acabou caindo em lugares escuros, sujos, sem vida. Agora estava ela ali, no leito de um hospital qualquer do centro da cidade, sendo ajudada pela única pessoa que não desistiu dela, que não a deixou sozinha. Talvez esse seja o mal da humanidade, pessoas que dão as costas a alguém que errou, não lhe dão chances de tentar mudar, de tentar ser uma pessoa melhor. Homens que querem fazer justiça e acabam puxando seu próprio tapete pelo simples fato de serem severamente preconceituosos com pessoas que erram. Quem não é perdoado e não tem a chance de mudar, se remói em mágoa e ódio, tornando-se pior. Verônica, uma mulher que não teve a chance de mudar e se tornar uma pessoa melhor, mais enfrentou obstáculos e ainda sim mudou, mesmo sem a chance. Lutou para mudar e conseguiu, mais mesmo assim ali estava ela, numa cama, contando os minutos para a sua morte. O que é a vida se não uma força implacável que não permite ações sem reações, erros e acertos sem conseqüências? Quisera Verônica poder voltar no tempo e não ter feito o que fez, agora estava pagando pelos seus atos, e tinha que aceitar, pois essa é a vida! Agora era tarde de mais para tentar concertar erros do passado, agora tudo já havia se tornado nada mais que uma folha ao vento, não era possível resgatá-la, só vê-la voar até onde o vento a levasse. Atos são como folhas secas, não há possibilidade de torná-las verdes e bonitas novamente, uma vez secadas, ficaram assim para todo o sempre, até se decomporem. Verônica era uma folha seca no meio de lembranças verdes e bonitas, outras nem tão verdes, nem tão bonitas. Mais agora já não importava mais as lembranças, eram apenas lembranças, nada mais do que lembranças. Agora a lua já iluminava o quarto onde ela ficara tanto tempo internada, era uma pena que sua vida iria se acabar ali, ninguém disse que ela morreria ali, mais ela tinha certeza. Ela sentia a morte ao seu lado contando os minutos para levá-la, um calafrio gelado e arrepiante. As arvores batiam lá fora com o vento que soprava, um barulho relaxante, Verônica não dormia a algum tempo, ficava sempre preocupada com o que poderia acontecer, mais agora sentira uma leve paz no coração, como quando era menina, gostava de deitar na rede e ouvir o canto dos pássaros para dormir. Seus olhos foram se fechando, o sono tomava conta de Verônica, suas pálpebras pesavam cada segundo mais, a preocupação de Verônica deu lugar para uma paz imensa e de certa forma uma estranha felicidade, uma felicidade imensa que tomava conta do seu ser, do seu corpo, da sua alma. Era como se estivesse sonhando e acordasse no meio da noite com os olhos ainda pesados, quisera Verônica que fosse mesmo um sonho, um sonho que agora acabaria. Ela poderia levantar e se dar conta de que todo sofrimento que ela havia passado na verdade era apenas um sonho, um sonho ruim, um pesadelo. O vento continuava a soprar, a janela de vidro balançava fazendo um pequeno barulho, um barulho estranhamente gostoso de escutar. Por fim, Verônica, a menina que errou e não teve nenhuma chance, mais ainda sim mudou para melhor, fechou os olhos para descansar eternamente.


João Victor / 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

Onde mora a felicidade? - Poema

Personalidades tão diferentes conseguem se encontrar,
É algo que não se pode prever, ou evitar.
Não importa quantos dragões tenha que você enfrentar,
Uma flor não perde sua beleza por causa de seus espinhos.

Não viva uma mentira para agradar alguém que,
Espera de você, mais doque você pode dar.
Saiba que não será feliz mudando a opinião das pessoas,
Sabendo que você não está bem consigo mesmo.

O amor que passa volta muitas vezes,
Mas cabe a você, apenas a você, abrir a porta e deixá-lo entrar.
Onde mora a felicidade?
A felicidade mora logo após à dor, à incansável luta, logo após a derrota.

E não se esqueça jamais, você é muito mais do que você pensa que é.

João Victor / 2009

quarta-feira, 25 de março de 2009

Uma Crônica Qualquer

Quando me sinto inspirado, deixo-me levar em algo incrédulo, imprevisível. Não sei se é algo que no meu subconsciente talvez eu já pensasse em escrever, mais é algo que no final das contas mostra tudo que eu estou sentindo de uma maneira indireta. Uma estória que pode se tratar de uma história que eu vivi, de maneira diferente, mais o que sentiu-se em ambos os textos sempre serão iguais, sempre? Pra que se preocupar em mostrar o que você sente de maneira indireta, se é tão mais facil mostrar de maneira direta?!
Talvez o que eu esteja escrevendo aqui agora expresse verdadeiramente o que estou sentindo, mas talvez isso não passe de mais uma crônica qualquer...

João Victor / 2009